Para compreendermos melhor a história de Israel, é importante conhecermos o pano de fundo histórico da região da Palestina. Quando nos referimos à Palestina, estamos falando da região da Cisjordânia e partes da Transjordânia. Segundo Donner (1997, p. 50), sob “Palestina” entende-se, em geral, o palco da história bíblica, preferencialmente a Cisjordânia, mas também as partes da Transjordânia: os territórios dos atuais estados de Israel e da Jordânia, e os territórios palestinos. O nome “Palestina” é a forma grega do termo aramaico Pelishta’in (em hebraico PeIishtim) e designava originalmente o território povoado pelos filisteus na planície litorânea. Após a segunda revolta judaica (132-135 d.C.), os romanos mudaram o nome da província de Iudaea, instituída por eles, para Palaestina, designando com este termo não só a planície litorânea, mas também as regiões montanhosas da Cisjordânia.
Podemos afirmar que a Mesopotâmia foi berço de civilizações bastante antigas e importantes, como os sumérios, os acádios, os assírios e os babilônios. O povo de Israel teve contato com vários povos que habitavam a região, até mesmo quando da conquista de Canaã. Em vista disso, vamos conhecer, ainda que de forma superficial, um pouco mais sobre os mais importantes que habitavam ou tinham influência na região.
Sumérios
Os sumérios foram o primeiro povo a se estabelecer na região da Mesopotâmia, por volta do ano 5000 a.C. Embora os registros iniciais escritos da região não remontem a mais do que cerca de 3500 a.C., os historiadores modernos sugerem que a Suméria teria sido colonizada permanentemente entre aproximadamente 5500 e 4000 a.C. No final do quarto milênio a.C., ela foi dividida por cidades-estados independentes, que foram delimitadas por canais e/ou muros de pedra. Cada cidade-estado era centrada em um templo dedicado a um deus ou deusa patrono particular e governada por um sacerdote ou por um rei local que estava intimamente ligado aos rituais religiosos da cidade. Segundo Silva ([s.d.]), essas cidades estiveram em constante estado de guerra umas com as outras pela disputa de terras. Cada uma delas possuía um deus ou deusa distinto, e para a adoração desse deus, eram construídos templos conhecidos como zigurates. As cidades sumérias desenvolveram uma característica típica dos agrupamentos humanos: as diferenças entre classes sociais. Na Suméria, existia uma pequena classe bem estabelecida e privilegiada que vivia à custa do trabalho das classes baixas.
Foi o povo sumério que criou a primeira forma escrita conhecida na região, a cuneiforme. Como tinham uma tradição comercial, essa escrita foi desenvolvida inicialmente para manter os registros e o controle da contabilidade, tanto do comércio quanto das finanças palacianas e da agricultura.
Fenícios
Os fenícios foram uma importante civilização que influenciou a região do Antigo Oriente. Eles eram povos de origem semita que se estabeleceram numa estreita faixa de terra entre as montanhas do Líbano e o Mar Mediterrâneo. Essa região corresponde à maior parte do litoral do atual Líbano e uma pequena parte da Síria.
O apogeu da civilização fenícia ocorreu entre os anos 1200 e 800 a.C., tornando-se uma “economia-mundial” cercada por impérios. Os fenícios dominavam uma ampla rota comercial marítima, como podemos observar na Figura 2. Eles estabeleceram colônias ao longo do Mediterrâneo e foram conhecidos por suas habilidades em navegação e comércio.
Acádios
Os acádios representam um dos povos da antiguidade que habitaram a região da Mesopotâmia. Diversas civilizações se desenvolveram nessa região, conhecida como o Crescente Fértil, entre os rios Tigre e Eufrates. Além dos acádios, outras civilizações, como os sumérios, os assírios, os caldeus, os hititas e os amonitas, também habitaram a região.
Os acádios foram um dos primeiros impérios da Mesopotâmia. Essa civilização era conhecida como Akkad, e o seu principal governante conhecido foi Sargão de Akkad, que fundou a dinastia acadiana. Poucos monumentos da época de Sargão sobreviveram até os dias atuais, mas existem cópias de inscrições reais que datam desse período. Os acádios dominaram algumas cidades sumérias e estabeleceram um comércio forte com a Índia.
Egito
O Egito é uma das civilizações mais antigas e influentes do Antigo Oriente. Sua história remonta a milhares de anos antes de Cristo. Os egípcios pré-dinásticos foram os antepassados dos egípcios dos tempos históricos, e seu desenvolvimento agrícola foi impressionante, com cultivo de cereais, frutas, legumes e linho. Eles também realizaram trabalhos de drenagem e irrigação, aperfeiçoando essas técnicas ao longo do tempo.
No período em que Abrão foi para o Egito, o país já era uma grande nação. Embora tenha passado por um declínio de poder devido à ascensão dos governantes locais, o Egito continuou a exercer uma influência significativa na região. Seu destaque na Bíblia e suas contribuições para a arquitetura, a escrita hieroglífica, a matemática e a medicina são exemplos do impacto duradouro dessa civilização.
FORMAÇÃO DA NAÇÃO
Como vimos, o relato bíblico nos permite identificar o período da formação primitiva da nação de Israel a partir da chamada de Abraão em 2002 a.C. até seu estabelecimento na terra de Canaã, por volta de 1500 a.C. Porém, efetivamente o que se tinha era Abraão comandando uma tribo nômade, que percorreu grande parte da Palestina. Assim, não podemos considerar esse ajuntamento de pessoas ainda uma nação, já que para haja uma nação fazem-se necessários, minimamente, três elementos básicos: a) um povo com uma cultura única; b) leis que regulamentem as relações entre as pessoas e a nação; e c) um território próprio.
Nesse aspecto, não podemos dizer que Abraão, Isaque e Jacó formavam uma nação. Nesse início, não havia a quantidade de pessoas em um mesmo local para formá-la, obedecendo à estrutura dos três elementos básicos. Mesmo que os 12 filhos de Jacó tenham se multiplicado, não passavam de um ajuntamento a mais naquele emaranhado de tribos nômades e cidades-estados que era a Palestina durante aquela época. Mas foi a partir de Abraão que a história do povo de Israel começou. Porém, somente a partir da busca pela terra prometida por Deus, que ocorreu quando da saída do povo do Egito, que efetivamente se iniciou o processo da formação de uma nação.
1. A Formação de um Povo
A formação de um povo não é um acontecimento da natureza, mas um processo histórico que se baseia no nível da consciência das pessoas e dos grupos de pessoas que dele participam. Pessoas de origem e característica diversas conscientizam-se dos elementos que têm em comum, seja lá em que consistam: em destinos comuns, língua e cultura comuns, religião comum. Querem agregar-se e rejeitam outros que não fazem parte ou que não devem fazer parte. Esses processos de assimilação e dissimilação deixam rastros na consciência do povo que se formou. É de se esperar que tais rastros encontrem expressão na tradição do povo. (Donner, 1997, p. 60)
Pode-se dizer que o período patriarcal, na narrativa bíblica, vai do surgimento de Abraão, no capítulo 11 de Gênesis, até o primeiro capítulo de Êxodo, o qual apresenta uma lista dos filhos de Jacó, antes de começar a narrar um novo período da história. Na opinião de muitos, os patriarcas entraram no Egito à época em que este era dominado pelos hicsos. Isso explicaria, em parte, a benevolência demonstrada para com Jacó e seus filhos, pois existe a possibilidade de que esses conquistadores, semelhantemente aos antepassados do povo de Israel, eram de origem semítica.
2. O Período no Egito
A dominação dos hicsos no Egito ocorreu entre a morte de José e o nascimento de Moisés, um período em que o Antigo Testamento se mostra completamente silencioso. É bem razoável admitir que o relacionamento existente entre os hicsos e os hebreus tenha sido o mais amigável possível […]. (Merrill, 2001, p. 47)
O povo só foi se multiplicar e surgir de forma mais numerosa no Egito. Ali sua cultura e costumes foram se definindo, e ao final de 400 anos era um povo numeroso, mas não uma nação. O segundo passo só seria dado após sua libertação por Moisés. Os hebreus viveram pacificamente no Egito por gerações, mas um faraó, possivelmente Amósis, que expulsou os hicsos, ou seu sucessor, Amenotepe I (1546-1526 a.C.) se inquietou devido ao aumento populacional e poder e decidiu torná-los escravos e mandou matar todos os meninos recém-nascidos. Ora, nessa época nasceu numa família israelita o pequeno Moisés. Para salvá-lo, sua mãe o acomodou numa pequena cesta de papiro e o escondeu entre os caniços do Rio Nilo.
O bebê foi recolhido pela filha do faraó e educado na corte. Ao se tornar adulto, Moisés ficou revoltado com a miséria do seu povo e se isolou no Deserto do Sinai. Ali, Deus se revelou a ele e lhe fez uma dupla promessa: libertar os israelitas da escravidão e lhe dar o país de Canaã. A partir de então, Moisés teve uma missão grandiosa: guiar o povo de Israel até a Terra Prometida e transmitir aos homens a mensagem de Deus nos dez mandamentos.
3. O Êxodo e a Lei
Moisés voltou, então, ao Egito, para junto do faraó, e lhe pediu que deixasse os escravos israelitas partirem para sua terra, porque era ordem de Deus. Diante da recusa do faraó, Deus castigou o Egito com dez terríveis pragas, narradas na Bíblia. Finalmente, o faraó cedeu, e o povo de Israel partiu livre: foi o êxodo, isto é, a saída do Egito.
Moisés conduziu os hebreus através do Deserto do Sinai. É aqui que se inicia uma nova fase para esse povo. Eles receberam a Lei: não apenas o decálogo, que se tornou padrão mundial, mas também toda uma legislação que detalhava os dez mandamentos, bem como outras instruções que regulamentavam a vida religiosa e civil. Mesmo que o período no deserto pareça uma perda de tempo, foi ele que possibilitou a existência de um código que garantiria para sempre a existência de Israel como nação; de certa forma, essa lei tornou-se sua pátria.
4. A Conquista de Canaã
Josué, sucessor de Moisés, ajudou a consolidar Israel. Liderou a tomada da terra, guerreando e conquistando boa parte dela. Agora, era um povo com cultura própria, leis próprias e na própria terra. Depois que saíram do Egito, os hebreus atravessaram o Mar Vermelho e passaram 40 anos errando pelo deserto da Líbia e pelo deserto da Arábia até que finalmente chegaram às fronteiras da terra prometida (atualmente Estado de Israel).
Moisés havia falecido, e Deus convocou Josué como seu sucessor. Este lançou uma guerra contra os cananeus e venceu seus adversários próximos. O país dos cananeus tornou-se então o país de Israel.
Conclusão
A formação da nação de Israel foi um processo histórico complexo que envolveu a chamada de Abraão, a estadia no Egito como escravos, o êxodo liderado por Moisés e a conquista da terra de Canaã sob a liderança de Josué. Esses eventos moldaram a identidade e a cultura do povo de Israel, estabelecendo as bases para a sua existência como nação. A trajetória dos patriarcas, a libertação do Egito e a promulgação da Lei foram etapas cruciais nesse processo de formação. O povo de Israel superou desafios e provações, e a sua história continua a ser contada até os dias de hoje.
Referências
BORGER, H. Uma história do povo judeu. São Paulo: Sefer, 1999.
FOHRER, G. História da religião de Israel. São Paulo: Academia Cristã, 2006.
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JOSEFO, F. História dos hebreus. 5. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
METZGER, M. História de Israel. São Leopoldo: Sinodal, 1972.
SCHULTZ, S. A história de Israel. São Paulo: Vida Nova, 1977.
WLWY, H. H. A fé em Israel. São Paulo: Paulinas, 1977.