A síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. É caracterizada por uma variedade de sintomas gastrointestinais recorrentes, como dores abdominais, alterações nos hábitos intestinais e desconforto após as refeições. Embora a SII não tenha uma cura definitiva, existem formas de aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
No entanto, recentemente, uma nova esperança surgiu para alguns pacientes que sofrem de sintomas semelhantes. A sensibilidade ao glúten (SG) é uma condição que se assemelha à SII em termos de sintomas gastrointestinais. Ela está relacionada à intolerância ou alergia ao glúten, uma substância encontrada em cereais como trigo e aveia. Fazer um diagnóstico preciso e diferenciar entre SII e sensibilidade ao glúten pode ser uma solução para pacientes que podem estar recebendo tratamento inadequado. Ao adotar uma dieta livre de glúten, muitos pacientes com sensibilidade ao glúten experimentam uma melhora significativa nos sintomas.
Neste artigo, a Dra. Maria Vazquez Roque, gastrenterologista da Clínica Mayo e professora assistente da Escola de Medicina da Mayo, irá aprofundar a explicação dessas doenças e fornecer informações valiosas sobre diagnóstico, tratamento e manejo da síndrome do intestino irritável e da sensibilidade ao glúten.
O Que É a Síndrome do Intestino Irritável (SII)?
A síndrome do intestino irritável é uma condição crônica que afeta o funcionamento normal do intestino. Embora a causa exata da SII seja desconhecida, acredita-se que múltiplos fatores desempenhem um papel no seu desenvolvimento, incluindo alterações na motilidade intestinal, sensibilidade visceral e alterações na microbiota intestinal. Os sintomas mais comuns da SII incluem dor abdominal, inchaço, diarreia ou constipação e desconforto após as refeições.
A Relação Entre a Síndrome do Intestino Irritável e a Sensibilidade ao Glúten
A sensibilidade ao glúten é uma condição que envolve uma resposta adversa ao glúten, mesmo sem ser diagnosticada como doença celíaca. O glúten é uma proteína encontrada em cereais como trigo, aveia, cevada e centeio. Pacientes com sensibilidade ao glúten apresentam sintomas semelhantes aos da SII, incluindo dor abdominal, inchaço, diarreia e constipação.
A dificuldade em diferenciar entre a SII e a sensibilidade ao glúten reside nos sintomas semelhantes que essas condições apresentam. No entanto, é importante destacar que a sensibilidade ao glúten não é uma alergia ou intolerância ao glúten, mas sim uma resposta anormal do organismo à presença dessa proteína.
Diagnóstico Diferencial e Tratamento Adequado
O diagnóstico diferencial entre a SII e a sensibilidade ao glúten é fundamental para garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado. A abordagem diagnóstica envolve uma avaliação clínica completa, incluindo histórico médico, exame físico e exames complementares. Além disso, é necessário excluir outras condições que possam estar causando os sintomas, como doença celíaca ou alergias alimentares.
Um dos principais desafios no diagnóstico diferencial é determinar se a sensibilidade ao glúten é a única causa dos sintomas gastrointestinais ou se coexiste com a SII. Isso ocorre porque os sintomas podem se sobrepor e variar em intensidade e duração.
Uma vez feito o diagnóstico correto, o tratamento pode ser direcionado para cada condição individualmente. Para o manejo da SII, as opções de tratamento podem incluir mudanças na dieta, uso de medicamentos para alívio dos sintomas e terapias complementares, como terapia cognitivo-comportamental.
No caso da sensibilidade ao glúten, o tratamento primário é adotar uma dieta livre de glúten. Isso envolve evitar alimentos que contenham trigo, aveia, cevada e centeio. Muitos pacientes relatam uma melhora significativa nos sintomas após adotarem essa dieta restritiva.
É importante ressaltar que o tratamento deve ser individualizado, levando em consideração os sintomas, a gravidade da condição e as preferências do paciente. Consultar um profissional de saúde especializado é fundamental para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado.
Como se trata essa síndrome? Depende da gravidade dos sintomas:
Isto depende da gravidade dos sintomas apresentados por cada indivíduo. Para casos leves, são recomendadas mudanças na dieta e no estilo de vida. Para casos moderados, é aconselhável acrescentar à abordagem anterior uma terapia psicológica. Em situações mais graves, podem ser necessários medicamentos antidepressivos e encaminhamento do paciente para uma clínica especializada em controle da dor. Independentemente da gravidade do problema, é fundamental que os pacientes entendam a necessidade de seguir um tratamento, manter a continuidade do cuidado, buscar tranquilidade e buscar informações sobre a síndrome para compreender melhor o que está acontecendo.
Quais são os conflitos envolvidos?
A síndrome do intestino irritável está associada a uma série de conflitos e fatores que podem contribuir para o surgimento e agravamento dos sintomas. Alguns desses conflitos observados em pacientes incluem:
1. Transtornos da evacuação retal
Os transtornos da evacuação retal são problemas graves enfrentados por pacientes com SII. Eles podem apresentar constipação, esforço excessivo durante a evacuação, sensação de evacuação incompleta, distensão abdominal e dores abdominais no lado esquerdo, que são aliviadas após a evacuação intestinal. Alguns pacientes também podem apresentar transtornos espasmódicos de evacuação, como o espasmo puborretal ou anismo, que envolvem uma manifestação anormal da função muscular do assoalho pélvico durante a tentativa de defecação. O diagnóstico desses transtornos requer uma avaliação cuidadosa do paciente, histórico médico detalhado e, em alguns casos, a realização de uma manometria anorretal.
2. Fatores irritativos do cólon
Alguns fatores irritativos podem afetar a mucosa do cólon, aumentando a permeabilidade e causando desconforto nos pacientes com SII. Entre esses fatores, destacam-se os sais biliares, que podem estar em maior concentração e desencadear sintomas mais intensos. A presença desses fatores irritativos pode levar a um trânsito rápido do cólon, com contrações amplamente propagadas.
3. Hipervigilância do sistema nervoso central
A hipervigilância do sistema nervoso central é um fator que pode contribuir para o desenvolvimento e agravamento dos sintomas da SII. Pacientes com essa condição podem estar mais propensos a perceber sensações normais do trato gastrointestinal como desconforto ou dor, o que pode aumentar sua percepção de sintomas.
4. Fatores genéticos e psicossociais
Além dos fatores físicos, fatores genéticos e psicossociais também desempenham um papel na síndrome do intestino irritável. O estresse e a ansiedade podem desencadear ou agravar os sintomas em algumas pessoas. Acredita-se que a interação entre fatores genéticos e ambientais contribua para a manifestação da doença em certos indivíduos.
5. Alterações na motilidade e sensação
Alterações na motilidade (movimento) e na sensação do trato gastrointestinal também estão envolvidas na síndrome do intestino irritável. A coordenação inadequada dos músculos do intestino pode levar a irregularidades nos movimentos intestinais, resultando em diarreia ou constipação. Além disso, a percepção anormal de sensações intestinais, como distensão ou dor, pode ser um componente significativo da doença.
Que medicamentos existem para aliviar esses transtornos?
Como o elobixibate atua no alívio dos transtornos intestinais?
O elobixibate é um modulador de ingestão biliar que foi formulado para tratar a constipação crônica idiopática e a síndrome do intestino irritável (SII) com constipação. Sua ação ocorre no íleo, onde atua como um inibidor do transportador de coletores biliares. Isso resulta em um aumento do trânsito intestinal e melhora na consistência das fezes. Em um estudo envolvendo 36 pacientes, foi observado que 48 horas após a administração de doses de 15 mg e 20 mg, o trânsito intestinal desses pacientes acelerou significativamente, proporcionando alívio dos sintomas.
O que são moduladores da serotonina e como eles ajudam no alívio dos transtornos intestinais?
Os moduladores da serotonina são fármacos que atuam no sistema nervoso central, especificamente em um subtipo de receptor chamado 5-HT4, que está relacionado com a função de contração e relaxamento. Esses fármacos são conhecidos como agonistas do 5-HT4. Ao seletivamente estimular esse receptor, os moduladores da serotonina podem ajudar a regular o funcionamento intestinal e aliviar os transtornos intestinais, como a constipação crônica e a SII com constipação.
Quais são os secretagogos e como eles contribuem para o alívio dos transtornos intestinais?
Os secretagogos são substâncias que estimulam ou desencadeiam a liberação de outras substâncias no organismo. Quando se trata de transtornos intestinais, existem dois tipos de fármacos secretagogos que têm demonstrado eficácia: o linaclotide e o plecanatide.
O linaclotide é um fármaco disponível no mercado que, após estudos de fase III realizados durante doze semanas, mostrou resultados efetivos no alívio da diarreia, da dor abdominal e na melhora da função intestinal. Ele age estimulando a produção de fluidos e reduzindo a sensibilidade dos receptores nervosos no intestino, o que ajuda a aliviar os sintomas da constipação crônica idiopática.
Já o plecanatide, em testes clínicos realizados durante 12 semanas com 951 pacientes, demonstrou ser eficaz no tratamento da constipação crônica idiopática. Administrando doses de 1 mg ou 3 mg desse medicamento, versus o placebo, foi observada uma resposta positiva após a primeira semana de tratamento. O plecanatide também foi bem tolerado pelos pacientes, mostrando-se promissor como uma opção terapêutica para aliviar os transtornos intestinais.
Qual é a relação entre a síndrome do intestino irritável e a sensibilidade ao glúten?
A sensibilidade ao glúten (SG) é um transtorno relacionado à ingestão de glúten que se manifesta com sintomas semelhantes à doença celíaca, uma patologia autoimune. A SG não é uma resposta alérgica ao glúten, mas seus sintomas, características clínicas, frequência e intensidade são semelhantes aos da síndrome do intestino irritável (SII).
Devido a essa semelhança, muitos pacientes com sensibilidade ao glúten podem receber um diagnóstico de síndrome do intestino irritável, caso não seja realizado um teste adequado para distinguir as duas condições. É importante ressaltar que, se um paciente diagnosticado com síndrome do intestino irritável continuar consumindo uma dieta que inclui glúten, o problema nunca será solucionado, uma vez que a sensibilidade ao glúten exige a exclusão dessa substância da alimentação.
Quais são os sintomas que levam a um equívoco no diagnóstico?
Existem sintomas gastrintestinais e extraintestinais que podem levar a equívocos no diagnóstico da sensibilidade ao glúten. Os sintomas gastrintestinais incluem dor abdominal, inchaço, constipação e diarreia. Esses sintomas são comuns em várias condições digestivas, o que pode tornar difícil identificar a sensibilidade ao glúten como a causa subjacente. Além dos sintomas digestivos, os pacientes sensíveis ao glúten também podem experimentar uma variedade de sintomas extraintestinais.
Sintomas gastrintestinais
Os sintomas gastrintestinais são aqueles relacionados ao trato gastrointestinal e podem variar de pessoa para pessoa. Alguns dos sintomas mais comuns incluem:
1. Dor abdominal
A dor abdominal é um sintoma frequente em pacientes com sensibilidade ao glúten. Pode ocorrer como uma dor tipo cólica ou uma sensação de desconforto geral na região abdominal.
2. Inchaço
O inchaço abdominal é outro sintoma gastrintestinal comum. Os pacientes podem sentir uma sensação de distensão abdominal e aumento do volume da barriga.
3. Constipação
A constipação é caracterizada por dificuldade ou diminuição na frequência das evacuações. Pacientes com sensibilidade ao glúten podem apresentar constipação como parte dos sintomas gastrointestinais.
4. Diarreia
A diarreia é outro sintoma gastrointestinal que pode ocorrer em pacientes sensíveis ao glúten. Pode ser acompanhada por fezes soltas, aumento da frequência de evacuações e urgência para defecar.
Sintomas extraintestinais
Além dos sintomas gastrintestinais, a sensibilidade ao glúten também pode causar sintomas em outras partes do corpo. Esses sintomas extraintestinais podem variar amplamente e incluem:
5. Fadiga
A fadiga é um sintoma comum em pacientes com sensibilidade ao glúten. Os pacientes podem se sentir cansados e sem energia, mesmo após períodos de descanso adequado.
6. Confusão mental
A sensibilidade ao glúten pode afetar o funcionamento cognitivo, levando a sintomas como confusão mental, dificuldade de concentração e problemas de memória.
7. Dor de cabeça
Dores de cabeça frequentes podem ocorrer em pacientes com sensibilidade ao glúten. Essas dores de cabeça podem ser de intensidade leve a moderada e podem ser acompanhadas por outros sintomas, como sensibilidade à luz e ao som.
8. Dor muscular ou articular
A sensibilidade ao glúten também pode causar dor muscular e articular. Os pacientes podem experimentar dores musculares, rigidez nas articulações e inflamação.
9. Eczema ou alergias na pele
Algumas pessoas sensíveis ao glúten podem desenvolver reações alérgicas na pele, como eczema, erupções cutâneas ou coceira intensa.
10. Insensibilidade nas pernas ou braços
A sensibilidade ao glúten pode causar sensações anormais nas extremidades, como formigamento, dormência ou falta de sensibilidade nas pernas ou braços.
11. Depressão
A sensibilidade ao glúten também pode afetar o estado emocional, levando a sintomas de depressão, como tristeza, perda de interesse, alterações de apetite e distúrbios do sono.
12. Anemia
Em alguns casos, a sensibilidade ao glúten pode levar à deficiência de ferro e anemia. Isso ocorre devido à má absorção de nutrientes causada pela reação ao glúten.
Equívocos no diagnóstico
O diagnóstico preciso da sensibilidade ao glúten pode ser desafiador devido à sobreposição de sintomas com outras condições. Alguns dos equívocos comuns no diagnóstico incluem:
13. Confusão com outras condições gastrointestinais
Os sintomas gastrointestinais da sensibilidade ao glúten, como dor abdominal, inchaço, constipação e diarreia, são semelhantes aos de várias outras condições digestivas, como a síndrome do intestino irritável (SII). Isso pode levar a um diagnóstico equivocado ou atrasado.
14. Sem marcador de diagnóstico definitivo
Atualmente, não existe um marcador de diagnóstico definitivo para a sensibilidade ao glúten. Embora os exames de sangue que medem os níveis de anticorpos específicos para o glúten possam ser úteis, eles não são conclusivos. O único teste diagnóstico definitivo é a exclusão e reintrodução do glúten na dieta.
15. Dieta baixa em FODMAPs e sensibilidade ao glúten
A dieta baixa em FODMAPs é frequentemente utilizada como uma abordagem de tratamento para a síndrome do intestino irritável (SII). Essa dieta exclui certos alimentos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis. No entanto, alguns dos alimentos excluídos também contêm glúten. Isso pode levar a uma melhora dos sintomas em pacientes com sensibilidade ao glúten não diagnosticada, resultando em um equívoco no diagnóstico inicial.
16. Sobreposição com outras condições
Os sintomas extraintestinais da sensibilidade ao glúten, como fadiga, confusão mental, dor de cabeça e depressão, também podem ser observados em outras condições médicas, como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica e distúrbios neurológicos. Isso pode dificultar a identificação da sensibilidade ao glúten como a causa dos sintomas.
Fontes:
Mayo Clinic. (2019, 25 de outubro). Síndrome do intestino irritável e sensibilidade ao glúten. NewsNetwork. https://newsnetwork.mayoclinic.org/discussion/sindrome-de-intestino-irritavel-e-sensibilidade-ao-gluten/